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Uma perspectiva histórica do cinema brasileiro

Da primeira sessão aos ciclos regionais

O cinema no Brasil tem pouco mais de cem anos e sua história não é tão atrasada com relação ao cinema mundial, tendo em vista que o primeiro cinematógrafo chegou ao Rio de Janeiro em 1896, aproximadamente dezoito meses depois do seu lançamento oficial em Paris, em sessão pública. O novo invento gerava curiosidade e atraía pessoas que se assustavam com o efeito de ilusão provocado pelas imagens de ondas do mar que ameaçavam invadir a sala de exibição. A primeira sala foi inaugurada no Salão das Novidades Paris, no Rio de Janeiro e, em apenas dois meses, algumas delas conseguiram um público de 52 mil pessoas – número bastante elevado, admitindo que dos 78 filmes nacionais lançados em 2007, apenas 18 conseguiram mais de 56 mil espectadores durante um ano inteiro de exibição. (...)

O sucesso de público das irreverentes chanchadas e a sóbria Vera Cruz aplaudida pela crítica

A primeira lei de cota de tela foi criada em 1932 e determinava a exibição de, pelo menos, um longa e um curta nacional nas salas de exibição, durante um dia no ano. A atitude, no entanto, não foi fruto de uma preocupação especial com o circuito cinematográfico, já que era apenas mais um dos reflexos da política intervencionista do governo na economia e na cultura. Com o golpe do Estado Novo, Getúlio Vargas institucionalizou um aparato de propaganda de Estado que acompanhava a criação do Departamento de Propaganda e Divulgação Cultural, em 1934. Assim surgiu o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), em 1937, para a promoção de filmes escolares e populares, a fim de consolidar uma identidade nacional. (...)

O cinema como instrumento de crítica social e política

Nos anos 60 houve uma efervescência política e cultural no mundo. No Brasil, Jânio Quadros estabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética e assumiu uma postura de simpatia à Revolução Cubana. Com sua renúncia e a posse de João Goulart foi lançado um plano de reformas de base (agrária, urbana e tributária) que incentivou a organização de estudantes, trabalhadores e das Ligas Camponesas. O cinema brasileiro refletiu isso adotando uma postura de engajamento político e uma estética inovadora que, por seu caráter transformador, acompanhava o desejo da revolução política. Influenciados pelo neo-realismo e pela nouvelle vague, os cineastas brasileiros optaram por produzir filmes de baixo orçamento, com a utilização de câmeras leves e sem o apoio de tripés, seguindo o postulado da “câmera na mão e uma idéia na cabeça”. (...)

Os marginais assumem a vanguarda cinematográfica

Na mesma época em que o Cinema Novo se desenvolvia e o regime militar estava em um dos seus mais difíceis períodos, com o decreto do AI-5, uma nova vertente cinematográfica, o Cinema Marginal, começava a propor outras técnicas e discussões a partir dos filmes A Margem, de Ozualdo Candeias, e de O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. Filiados a esta linha estética foram os diretores Júlio Bressane, Andréa Tonacci, João Silvério Trevisan entre outros. Com influências dos neo-expressionistas como Orson Welles; do modernismo, nas obras de Oswald de Andrade; e produzindo contemporaneamente com artistas plásticos conceituais e músicos tropicalistas, os filmes possuíam uma fragmentação narrativa, originária da proposta antropofágica modernista, em contraposição aos extensos plano-seqüência dos cinemanovistas. (...)