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Especial - Wim Wenders fala sobre o cinema nacional


26/08/2008
Wim Wenders fala sobre o cinema nacional

O cineasta alemão Wim Wenders esteve no Brasil durante o mês de agosto para participar de uma série de eventos. O diretor de O Amigo Americano (1977) e Buena Vista Social Club (2006) esteve no Fronteiras do Pensamento, ciclo de seminários sobre estética e cultura contemporâneas, em Porto Alegre (18/08) e em Salvador (31/08), e foi sabatinado em evento promovido pela Folha de S. Paulo (22/08), do qual participou também o diretor Walter Salles.

Em todas as suas palestras e entrevistas, Wim Wenders comentou a importância de se produzir o que chamou de cinema "com forte sentimento de pertencimento local", ou seja, no sentido de que os filmes precisam contar histórias com identidade, que reflitam o próprio país e, não falar sobre enredos que poderiam acontecer em qualquer lugar. Ele defendeu o cinema de autor e enfatizou que os brasileiros devem incentivar seus cineastas e as produções nacionais. “Central do Brasil, por exemplo, foi tão brasileiro, imensamente brasileiro. Você entende de onde ele vem," disse Wenders.

O cineasta disse que a sua relação com o Brasil começou quando era pequeno, por meio da arquitetura de Oscar Niemeyer e que ficou fascinado com a idéia de “construir uma cidade no meio da selva”, segundo ele foi assim que a notícia foi difundida na época, na Alemanha. O diretor, de 63 anos, disse que costuma explorar as paisagens dos países em que está filmando e que filmes como Paris, Texas (1984), em estilo "road movie", permitem, ao mesmo tempo, filmar e viver a história. Além disso, falou que o enredo surge da própria paisagem. "Por isso, acho que se fosse fazer um filme aqui seria em Brasília, mas teria que passar um tempo lá e esperar que a cidade me contasse o que dizer."

Wenders se declarou fã de Glauber Rocha e afirmou que o atual cinema brasileiro é "muito vívido, atuante e ativo". Ele comentou que não tem muitos conhecimentos sobre a produção cinematográfica brasileira, mas que “o cinema feito aqui [no Brasil] começa a ter projeção internacional”. Elogiou diversas vezes o filme Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes, mas admitiu não ter visto ainda Tropa de Elite (2007), do qual assistiu trechos durante o debate do qual participou junto com o diretor do filme José Padilha, em Salvador. Também afirmou ter visto todos os filmes de Fernando Meirelles e Walter Salles. Durante uma coletiva em Porto Alegre, lembrou ainda que Deus e O Diabo Na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967), foram alguns dos filmes mais interessantes que viu durante a sua vida.

O diretor que já tem mais de quarenta filmes realizados, discutiu a importância de cineastas como Yasujiro Ozu e Anthony Mann, que influenciaram sua filmografia. Comentou como as novas tecnologias digitais permitem a captação de imagens corriqueiras do dia-a-dia, o que não era possível com o equipamento mais antigo, mas que, apesar disso, não acredita que a experiência de ver filmes na sala de cinema vá acabar. “Os recursos digitais expandiram a linguagem e o vocabulário do cinema, além de permitir aos jovens diretores uma liberdade muito maior do que tiveram os diretores de minha geração.” No Festival de Cannes que ocorreu em maio deste ano, Wim Wenders estava presente com seu novo filme Palermo Shooting, inédito no Brasil. Daqui, o diretor vai para a Itália, onde participará do Festival de Veneza como presidente do júri.